quarta-feira, 2 de abril de 2008

Arte na Ruína é notícia "O lugar ficou marcado pelo estigma da omissão e da negligência tão denunciadas pelo próprio Chico".

Ao ser transferida para as suas novas instalações, em 2001, a delegacia de polícia de Xapuri deixou para trás um prédio velho, de onde certamente se ouviu o tiro que abateu Chico Mendes em um dezembro há quase 20 anos. Ao ser transferida para as suas novas instalações, em 2001, a delegacia de polícia de Xapuri deixou para trás um prédio velho, de onde certamente se ouviu o tiro que abateu Chico Mendes em um dezembro há quase 20 anos. O lugar ficou marcado pelo estigma da omissão e da negligência tão denunciadas pelo próprio Chico e ali permaneceu abandonado por vários anos, como um monumento à vergonha e à covardia tão peculiares àqueles tempos. Eis que alguns anos depois, como que movidos por uma chama de ideal que teima em buscar luz em meio às trevas, um punhado de jovens talentosos e determinados a mudar a realidade em que vivem transforma as ruínas do velho prédio em algo a que jamais se propôs em tempo algum e nem poderia, por seu intuito de cárcere: uma fábrica de liberdade e de sonho, que foge das grades da opressão e da intolerância, de uma forma que somente através da arte se pode conceber e explicar. Arte na Ruína é uma manifestação cabal dos valores artísticos, intelectuais e, acima de tudo, éticos e humanos, dos quais Xapuri ainda dispõe, apesar dos tempos inglórios. Uma reação, pacífica e intensa, diante do senso comum de que aqui nada se pode fazer de novo, de bom, de saudável e contraditório. Sim, aqui tem arte e se faz arte mesmo que as portas do museu Casa Branca sejam fechadas na cara dos artistas como ocorreu há algum tempo.
Pensemos que talvez não tenha sido por maldade que assim agiram. Quem sabe temeram os “vândalos da arte”, no dizer de Jeronymo Artur, que nada destroem senão edificam cidadania e saem do lugar-comum para mostrar ao público, à sua maneira, que a realidade pode sim, ser transformada para melhor. Basta querer e acreditar no que se faz, mesmo que o sentido do caminho e o modo de caminhar contrariem toda a lógica e contradigam todo o óbvio.
.
Texto do jornalista - Raimari Cardoso
.

Nenhum comentário: