segunda-feira, 31 de março de 2008

"O ensaio surreal do grito sufocado"

Foto - Val Fernandes

No fim desse corredor, há vários pés de açaí. Deles, neste momento, só precisaremos de energia e da beleza que estampa os escombros da ruína logo ao fim.
Maravilha, só mais um instante e logo o Amarildo anunciará o início do espetáculo e, só então embarcaremos com Clenes Alves numa viagem historicamente dilacerada pelo antagonismo do sonho da juventude - o movimento sob passos e toques revelará um mundo de possiblidades para novo.
Também pegaremos uma carona com a fotógrafa Val Fernandes que registrou todo o espetáculo através da sua câmera mágica - o ponto focado pela val, contradiz o ímpeto da formalidade e resgata o límpido do inusitado.

O Direito de Sonhar


Aventura-se no novo rumo, ousando sempre e cada vez mais apreender o poético no instante mesmo da eclosão da imagem. A imagem é captada tão-somente nela própria, no que tem de absolutamente irredutível a qualquer outra instância. O que importa é seu aparecer instantâneo, imagem enquanto imagem, imagem não mais que imagem, cintilação de linguagem. Acolhê-la assim é acolhê-la numa atmosfera de felicidade, como palavra feliz que ilumina o solitário instante da criação e da doação do poético. Pois,

“... a imagem poética existe sob o signo de um ser novo.

Esse ser novo é o homem feliz."

Bachelard/ livro - O direito de Sonhar

20 anos sem Chico Mendes - O Instituto Chico Mendes planeja ações culturais para Xapuri


Na Roda a discussão é Cultura - pouquíssimas vezes pude estar presente em Xapuri num grupo tão seleto de jovens e representantes de Instituições ligadas à Cultura e às diversas manifestações artísticas que realmente estivessem interessados em produzir cultura popular como meio de transformação social e de absorção de valores da realidade local.
Iniciou hoje através da Iniciativa do Instituto Chico Mendes por sua Presidente a Jovem Elenira Mendes um Encontro de Planejamento para Ações de intervenção na área cultural de Xapuri, contando com a participação de representantes do Ministério da Cultura, Fundação Elias Mansur, Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional, Museu Xapury, Grupos Locais ligados a produção Cultural, onde destacamos: o Poronga e o Arte na Ruína e Coordenação da Quadrilha Rabo de Saia, entre outros agentes promotores da cultura local.
O encontro em destaque está acontecendo na Pousada Villa Verde, onde hoje durante todo o dia estiveram destacando as principais dificuldades encontradas, bem como as iniciativas existentes que mesmo sem o apoio devido do Poder Publico Local, encontramos ações na área cultural que demonstram facilmente o carinho e força de vontade que cada um mantém acessa.Elenira Mendes na abertura do Encontro ressaltou da importância do Instituto Chico Mendes em estar fomentando tais atividades tendo em vista que a Instituição fora pensada numa perspectiva jovem, alicerçado nos conceitos do movimento ecológico idealizado pelo Grande Mártir Chico Mendes, numa exposição clara e precisa descreveu sucintamente a natureza da Instituição, sua visão e objetivos.
Na oportunidade também fora exposto no âmbito de produção cultural pelos Jovens Clenes Alves e Diego Ferraz a fase declinante que tem observado em Xapuri principalmente no tocante ao fomento dos órgãos públicos que praticamente inexiste a muito tempo, nessa ampla apresentação da realidade o Jovem Artista Plástico Wagner San expôs a experiência do Grupo Arte na Ruína que é na verdade uma provocação no sentido de sensibilizar toda a sociedade xapuriense a buscar alternativas viáveis voltadas a Produção cultural, provocação esta que se constitui em um grande marco de mostrar o novo, que pode inclusive marcar historicamente uma passagem de conceito de produção artística num ambiente que hoje a nível municipal, permeia a falta de incentivos.
Interessante que, no transcorrer do encontro percebia-se a interação de todos e a motivação nas discussões que de fato interessava aos presentes.A representante do Ministério da Cultura a senhora Keilah Diniz ressaltou da importância de focalizar esforços em produzir alternativas que realmente estejam voltadas à cultura local, dando sua importante contribuição no levantamento de situações problemas encontradas a nível de município, demonstrando bastante interesse e engajamento com a área cultural, enfrentando com bons sorrisos uma caminhada pelos principais pontos do centro de Xapuri que Promovem a Cultura numa visita que iniciou na Fundação Chico Mendes, Casa de Leitura, Centro de Memória Chico Mendes, Ruínas da antiga Delegacia de Policia local onde acontece as apresentações do Grupo Arte na Ruína, Centro de Lazer para a Juventude Caleb do Nascimento Mota, Museu dos Xapurys e Casa Branca, tendo ainda energia juntamente com o grupo de jovens a encerrar as 18:00h o primeiro dia de encontro, sendo que ainda ocorrerá nesta quarta e quinta-feira a conclusão do Planejamento idealizado, o que de certo é uma boa pedida a todos, que possam estar contribuindo para com este gesto de transformação cultural. Realmente hoje tive o previlégio de ter literalmente um dia cultural, já que a cultura esteve na roda.

Por Joscíres Ângelo.

Galera - MINC, FEM, IPHAN, ICM, Museu Xapury, Grupo Poronga, Rabo de Saia e os jovens do Arte na Ruína

Por aqui, contaremos um pouco do que aconteceu neste encontro de três dias.
TEXTOS - DEPOIMENTOS - FOTOS
Tudo nas próximas postagens.

quinta-feira, 20 de março de 2008

O que dizer do imensurável

Por Joscíres Ângelo

Olhando as postagens do Arte na Ruína muito me alegra pela grandiosa vontade deste grupo em trazer aos nobres xapurienses a graça e a magnitude da arte pelo seu ângulo mais perceptível o da realidade. Ao passo que decaio numa grande tristeza em perceber que a política cultural de Xapuri se esfalece na tolice congênita dos agentes públicos responsável pela manutenção do gênero artístico neste município.
É válido ressaltar que nesta cidade grandes movimentos culturais nasceram e sobreviveram ao longo de algum tempo unicamente pela iniciativa popular que sempre estiveram à frente das iniciativas e digamos com apoio quase inexistente do poder público. Cito nesse ínterim a criação do Grêmio Cultural Madre Petronilia Trinca em 1953 pelos jovens do então Instituto Educacional Divina Providência, que marca a entrada dos jovens xapurienses nas diversas expressões artísticas entre elas o curso normal de piano para moças que era realizado na própria escola bem como eventos esportivos e teatrais sempre a cargo dos Frades Servos de Maria que aqui residiam.
A partir deste marco inicial, muitas iniciativas na área da musica, teatro e pasmem até mesmo na literatura foram amplamente difundidas entre a juventude pacata e ordeira de Xapuri nas décadas de 60, 70 e 80, sempre sem o apoio do Poder Publico. Essas décadas são marcadas pela chegada dos migrantes sulistas que contribuíram decisivamente para miscigenação de uma estrutura cultural, fortemente alicerçada na realidade local.
Se formos considerarmos as expressões artísticas neste rincão amazônico, devemos primeiramente agradecer sempre a atitude dos jovens xapurienses, que sempre estiveram a frente dessas transformações, às vezes tidos como rebeldes, indisciplinados. Não, plenamente, incompreendidos sim, rebeldes jamais, dispostos a mudanças sim... Indisciplinados não... Diferentes do padrão adotado por isso difíceis de serem interpretados.
É nesse contexto que se apresenta a proposta dos Jovens integrantes do Arte na Ruína, verdadeiros navegadores que lançam seus horizontes num objetivo claro e preciso o de sensibilizar a população e os agentes públicos, para com o grave descaso que a cultura vem sofrendo nos últimos anos em Xapuri. O que dizer então de tão nobre intenção??? Exaltar a iniciativa e ver que há necessidade de fortalecermos tal movimento para que não seja o apelo unicamente de um grupo, mas de uma sociedade toda...
Conheço todos os integrantes do Arte na Ruína e vejo com bons olhos tal movimento iniciado com muita garra dedicação e acima de tudo qualidade nas suas apresentações e alegro em saber que tenho certeza de que este pequeno fragmento do novo alvorecer das expressões artísticas em Xapuri se constituirá numa nova realidade vindoura...

Parabéns aos integrantes do “Arte na Ruína” pela iniciativa.

A cela da poesia

Rabisco no chão e arranho nas paredes se configura no imaginativo ao passo da luz.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Impressões de uma viagem amazônica

Por Michele Sato

A menos de 50 metros da casa de Chico Mendes, a delegacia de polícia fora abandonada, já que a justiça parece ser um artigo de luxo neste país chamado Brasil. Somente a coragem e o engenho de jovens rebeldes recriariam aquele lugar, transformando ruínas em potencial de sonhos. Clênio e Wagner San tiveram trabalho em convencer o grupo de jovens de que aquele local abandonado seria um palco ideal à arte de Xapuri, mas o trabalho maior viria depois, na hora da limpeza e na arrumação do local abandonado, que entre entulhos e vestígios de impunidade, ainda oferecia desajustes físicos em pedaços.

Tudo arrumado, afinal, Amarildo anunciava poeticamente o espetáculo da floresta no alto do telhado da delegacia, com os letreiros (não luminosos) atraindo o público: "arte na ruína". Sua voz ecoava facilitada pela ausência de tetos e telhados, e Cildo cuspia seu desprezo à injustiça em fogo malabarista num circo que mostrava o sol em plena noite. A recepção especial veio pela poética de Clenes, que me convidava à entrada de sua viagem de fantasias.

A primeira sala emanava fitas, panos e tecidos coloridos confundidos nos corpos camaleônicos de 3 dançarinos. Disfarçados de corpos humanos, Cley, Cleo e Gino eram as brisas que se movimentavam ao sabor de notas musicais, ultrapassando barreiras físicas e tornando as paredes apenas uma ilusão, pois suas danças flutuavam no orbe de encantos. E o corpo se prosseguia em outra sala, desta vez numa prisão de grades que escondia Rômulo, mas que barreira nenhuma o privava de sua liberdade. Desenhos, gravuras e quimeras brincavam com as esculturas do San, num contraste da dor e da alegria da performance.

Xapuri mostrava sua cara na voz de Alarice, como se Cazuza encarnasse a fome pela vida na mágica sinfonia destes jovens talentosos. João Paulo, Jarede e Rafael também embalavam o rock and roll dilacerante, como se a sonoridade inquieta pudesse libertar as almas vagantes ao mundo da paz. A tênue linha que segregava solidão e conflitos enroscava na pipa que voava pelos ares no show coletivo daquela arte sensível. E a representação teatral veio por Clemilsa e seu filho Diogo, Leleide, Getúlio, Aíton e pelo próprio Clenes. A poesia declamada deitava-se no chão, e ali as estrelas iluminavam aquele palco construído numa delegacia destroçada.

Queria ter chorado em silêncio, apreendendo cada momento como se fosse o último, na sensação vazia de que jamais presenciaria tamanho espetáculo. Mas naquele momento, compreendi que meu silêncio poderia ter interpretação contrária e balbuciei algumas frases, talvez sem nenhuma conexão sensata, mas as únicas possíveis naquele momento. A grandeza do instante veio em forma deste texto num quarto de hotel, quando a memória recusava a esquecer a coragem imaginativa de jovens arguciosos que me mostravam suas feridas, em uma das feridas arquitetônicas da história de Chico Mendes. Imanentes em suas dores romperam grades, quebraram janelas, voaram céus e transcenderam suas angústias. Se o sonho é algo possível, ele estava ali, excitadamente apresentado naquele instante que vencia cansaços, ruínas e tempos e se consagrava na alegria mais expressiva da raça humana: a arte!

Texto completo – Impressões de uma viagem amazônica
http://www.ac.gov.br/bibliotecadafloresta/biblioteca/index.php?option=com_content&task=view&id=86&Itemid=85

Na subjetividade do objetivo, voaremos por aqui.

Somos jovens artistas de Xapuri - AC e criamos este blog para compartilhar este momento muito bacana que estamos vivendo através da arte. Há, um certo ar de inquietação artística da nossa juventude e o movimento esta bailando nos olhares atentos de quem tem assistido o espetáculo “O ensaio surreal do grito sufocado” no – Arte na Ruína. Portanto, brindaremos por aqui as diversas manifestações de quem presenciou e presenciará este momento um tanto quanto reencantador.